'Uma parada no sertão nordestino, que reúne 500 pessoas, é tão importante quanto a da Avenida Paulista, porque dá voz a quem não tem', diz Nelson Matias Pereira.
Nelson Matias Pereira, presidente e sócio-fundador da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo Divulgação No domingo, dia 22 de junho, a 29ª.
edição da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo terá como tema a velhice, e o primeiro trio a percorrer a Avenida Paulista será formado exclusivamente por pessoas com 60 anos ou mais.
Conversei com Nelson Matias Pereira, presidente e sócio-fundador da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que diz: “não temos o apoio do Legislativo e nossas conquistas só ocorreram por causa do Judiciário.” Como surgiu o tema “Envelhecer LGBT+: memória, resistência e futuro”? Nelson Matias Pereira: A cidade de Goiânia fez uma parada em 2024 falando de envelhecimento e achei da maior relevância, tanto que levei o tema para o nosso fórum “Que parada queremos” e a proposta foi a vencedora.
Olhando para trás, conseguimos muitas vitórias desde o primeiro evento, em 1997, e achamos que estava na hora de resgatar essa linha do tempo.
Também é uma forma de conscientizar as novas gerações de que a luta está longe do fim.
Sua militância começou em 1997 e você vai completar 59 anos no dia da 5ª Corrida do Orgulho LGBT+, véspera da parada.
O que mudou? Nelson Matias Pereira: Se é difícil ser idoso nesse país, imagina ser LGBT+.
Apesar da luta, ainda vivemos o preconceito e a exclusão.
Não temos o apoio do Legislativo e nossas conquistas só ocorreram por causa do Judiciário.
Foi o STF (Supremo Tribunal Federal) que reconheceu o casamento homoafetivo.
Avançamos, mas não há passe de mágica, sabemos que se trata de um longo processo.
O que pode ser feito, em termos de políticas públicas, para beneficiar esse grupo mais velho? Nelson Matias Pereira: Posso dar um exemplo que mostra como é danoso que Estado e religião se misturem.
Como o Estado é incompetente para prestar os serviços que deveria, casas de acolhida que recebem idosos são, em grande parte, geridas por instituições religiosas que impõem valores às pessoas.
Idosos gays são obrigados a voltar para o armário porque não têm o direito de viver de acordo com sua orientação sexual. Como as paradas ajudam a mudar tal cenário? Nelson Matias Pereira: O Brasil é o país com o maior número de paradas: são 325.
E a de São Paulo é a maior do mundo.
Costumo dizer que uma parada no sertão nordestino, que reúne 500 pessoas, é tão importante quanto a da Avenida Paulista, porque dá voz a quem não tem.
A Prefeitura paulista investe cerca de R$ 5 milhões na infraestrutura do evento, que faz parte do calendário da cidade, mas só o retorno financeiro com a arrecadação de impostos é de mais de R$ 90 milhões.
Queremos que parte desse dinheiro seja aplicado em políticas públicas, como uma casa de acolhimento para os LGBT+ idosos. Mais que uma letra: entenda o que significa a sigla LGBTQIA+ Programação completa: 24ª Feira Cultural da Diversidade LGBT+ Data: 19 de junho Local: Memorial da América Latina (entrada gratuita mediante cadastro) 5ª Corrida do Orgulho LGBT+ Data: 21 de junho Local: Shopping SP Market Link para as inscrições: www.corridaorgulho.com.br 29ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo Data: 22 de junho Local: Avenida Paulista (concentração a partir das 10h) Exposição “O mais profundo é a pele” Exibição: até 31 de agosto no Museu da Diversidade Sexual, de terça a domingo, das 10h às 18h (ingressos gratuitos)