O premiado 'Um toque familiar, da diretora estreante Sarah Friedland, apresenta a narrativa do ponto de vista da protagonista frente a seu declínio.
Que sentimentos tomam conta de alguém que reconhece os sinais do próprio declínio cognitivo e percebe a dimensão da impotência diante do que está por vir? Esse é tema de “Familiar touch” (“Um toque familiar”, em tradução livre), que acaba de ser lançado nos Estados Unidos.
Em 2024, o filme participou do 81º.
Festival de Veneza, na competição paralela Horizontes, onde saiu consagrado: melhor direção para a estreante Sarah Friedland, também roteirista e produtora; e melhor atriz para a veterana Kathleen Chalfant, de 80 anos.
A diretora ainda conquistou o Leão do Futuro Luigi de Laurentiis de melhor longa de estreia.
No Brasil, fez parte da 48ª.
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde recebeu o prêmio de melhor filme de ficção. Ruth, interpretado por Kathleen Chalfant: filme mostra a perspectiva da idosa com demência Divulgação Kathleen interpreta Ruth Goldman, que é confrontada com uma realidade irrefutável.
Os primeiros sinais surgem quando, apesar de exímia cozinheira, começa a errar receitas que antes fazia de olhos fechados.
A situação chega ao ponto sem retorno quando o filho vai visitá-la e a mãe o confunde com um pretendente.
Na sequência, quando os dois vão à instituição de longa permanência que ela mesma havia selecionado, um novo baque: a idosa não se recorda de ter feito aquela escolha tempos atrás. O filme acompanha sua jornada na instituição, sempre pela sua perspectiva: o confronto com a rotina e as regras, a percepção sobre seu senso de identidade e independência.
Embora resista a interagir com os outros residentes, Ruth consegue se conectar com os cuidadores e encontra um propósito ao preparar refeições na cozinha do lugar.
Em entrevistas, Sarah Friedland disse que se inspirou na avó – uma poeta que perdeu a capacidade de se comunicar devido à progressão da demência.
Anos depois, como voluntária, cuidou de idosos e a experiência foi marcante: “pude me dar conta da dimensão do preconceito contra os mais velhos.
Gostaria que os jovens se identificassem com a protagonista, na situação de ter que lidar com algo novo e assustador”. As filmagens foram realizadas numa comunidade de aposentados em Pasadena, na Califórnia.
Os moradores fizeram seus próprios filmes biográficos e, depois dessa imersão cinematográfica, passaram a integrar o elenco.
No entanto, a diretora não filmou os moradores da chamada ala de cuidados da memória – dedicada aos que estão em estágio avançado de demência – devido à questão ética de serem incapazes de dar seu consentimento. Metade dos casos de demência no Brasil poderiam ser evitados, aponta estudo da UFRGS