Doce e cremoso na capital paulista, o fruto nativo da Amazônia, alimento-base de comunidades ribeirinhas, passa por alterações essenciais em sua longa viagem, impactando sabor e qualidades nutricionais.
Do prato ao copo: como o açaí da região Amazônica virou sobremesa na cidade de SP O açaí consumido em São Paulo está longe da fruta original da Amazônia.
Conhecido na capital paulista por seu sabor doce e textura cremosa, geralmente servido com banana, granola e leite em pó, o açaí passou por diversas adaptações até chegar à tigela do paulistano.
Na Amazônia, o açaí é um alimento essencial na dieta diária, não uma sobremesa.
Costuma ser acompanhado de farinha, peixe frito ou camarão. "O açaí, para ser 'raiz', não pode ter nada além do fruto e a água na sua composição", diz Andréa Brito, dona de um empório especializado em produtos do Norte na capital.
Mas ela admite que, por aqui, costuma adoçá-lo.
"Eu confesso que acrescento um pouco de açúcar para consumi-lo, porém, muitos nortistas também fazem isso." A nutricionista Fabiana Poltronieri, da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), explica que a polpa do açaí é naturalmente rica em calorias, gorduras boas, fibras e antioxidantes.
No entanto, essa composição pode mudar bastante dependendo do processamento. A adaptação do açaí ao paladar paulista inclui o acréscimo de ingredientes.
"Contém misturas como xaropes, estabilizantes, aromatizantes e várias outras misturas que o transformam, na realidade, em um sorvete de açaí", resume Andréa. Segundo Fabiana, esse tipo de açaí tende a ser mais calórico.
"As coberturas que incluem sorvete, leite condensado, brigadeiro, podem transformar a tigela de açaí numa bomba calórica menos saudável", alerta. Açaí, o alimento-base da região Norte do Brasil que virou sobremesa no Sudeste Victor Martins/TV Globo A jornada do açaí até SP Para que um produto tão perecível como o açaí chegue à capital paulista com segurança, a polpa passa por pasteurização e congelamento logo após a extração.
"A pasteurização consiste em um processo de aquecimento rápido que elimina micro-organismos, prolongando a vida útil do alimento", explica Fabiana.
Esse processo, segundo ela, preserva os principais nutrientes. Andréa reforça que a logística ainda é um desafio.
"Nem sempre conseguimos transportar esses produtos com agilidade, e isso acaba impactando na oferta regular de alguns itens e no frete." Açaí, o alimento-base da região Norte do Brasil que virou sobremesa no Sudeste Victor Martins/TV Globo Apesar de a maioria dos clientes do Empório Amazônico ser nortista, Andréa conta que cerca de 5% são paulistanos, e o número tem crescido.
Gustavo Chawiche, de 25 anos, foi um deles.
Ao conhecer o açaí in natura, ele estranhou o amargo e o sabor forte, mas gostou ao adicionar açúcar.
A paixão aumentou ao complementar com a farinha de tapioca, típica da região Norte.
"Sempre consumi o açaí como sorvete, com leite condensado e paçoca.
Hoje só como com farinha de tapioca.
É até um pecado colocar outra coisa", diz. A estudante de nutrição Mariana Saito, de 22 anos, também aderiu à versão pura.
"O açaí consumido dessa forma é mais saudável que o açaí cremoso vendido popularmente em São Paulo." A dica de Andréa para quem quiser experimentar a versão in natura é simples: "Experimente.
Mas pode colocar um pouco de açúcar para o impacto ser menor! É uma imersão na cultura gastronômica de uma região em que esse rico alimento é a base para o sustento de muitas famílias". Pesquisa revela que açaí industrializado mantém as propriedades naturais "Não há alimentos proibidos, vilões ou santos.
O que há é a necessidade de procurarmos ter um hábito alimentar que dê preferência aos alimentos in natura e minimamente processados", conclui a nutricionista. Para Andréa, o açaí raiz é mais que um alimento: é uma experiência cultural.
"Aqui no empório, nossas duas colaboradoras, que são paulistanas, já não conseguem mais tomar o 'açaí de São Paulo' após consumirem o original.
É um caminho sem volta!" Onde encontrar açaí 'raiz' em SP Empório Amazônico SP: Rua Lucinda Gomes Barreto, 60 - Vila Carrão, Zona Leste Restaurante Paraense Itaquerense: Rua Italina, 540 - Itaquera, Zona Leste Namazônia Restaurante: Rua Áurea, 361 - Vila Mariana, Zona Sul Amazônia Casa Brasileira: Rua Rui Barbosa, 218 - Bela Vista, Centro DaSelva Peixaria Amazônica: Rua da Consolação, 41 - Centro Restaurante Banzeiro São Paulo: Rua Tabapuã, 830 - Itaim Bibi, Zona Sul