Boa parte da resistência veio da direita religiosa dos EUA, que desafiou o Pontífice e condenou sua flexibilização aos homossexuais e divorciados.
Papa Francisco morre aos 88 anos O papado transformador de Francisco, englobando a defesa do planeta face à emergência climática, dos imigrantes, de uma Igreja mais humilde e inclusiva e da comunhão aos homossexuais e divorciados, atiçou também a resistência a ele.
Boa parte da oposição veio da direita católica dos EUA, que o apelidava de anticristo e espalhava teorias da conspiração e desinformação sobre o Papa. Nos 12 anos de pontificado, Francisco se manteve firme em suas convicções e não recuou.
"Rezo para que não haja cismas, mas não tenho medo", afirmou em 2019.
O papa criticava o atraso de conservadores católicos americanos, dizendo que haviam substituído a fé pela ideologia política, como fez em 2023 num encontro durante a Jornada da Juventude em Lisboa.
Era o reconhecimento de que havia “uma atitude muito forte, organizada e reacionária” na Igreja dos EUA, que chamava de retrógada. "Há até padres que fazem comentários maldosos sobre mim", disse ele em 2021.
"Às vezes perco a paciência, principalmente quando fazem julgamentos sem entrar em um diálogo real.
Não dá para fazer nada com isso.” LEIA MAIS: Morre o papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, aos 88 anos em Roma VÍDEO: veja momento que sino da Basílica de São Pedro tocou para anunciar morte do papa Francisco Bem-humorado, torcedor do San Lorenzo e primeiro papa latino-americano: conheça a trajetória de Francisco Do funeral ao Conclave: quais são os próximos passos da Igreja Católica após a morte do papa Francisco Sé vacante, camerlengo e Colégio dos Cardeais: saiba quem comanda a Igreja Católica após a morte do papa Francisco VÍDEOS: brincadeiras, quebra de protocolos e a descontração do Papa Francisco Pulmão, intestino e mais: os problemas de saúde enfrentados por Francisco O cardeal ultraconservador americano Raymond Burke, de 76 anos, personificou a resistência a Francisco: entrou em frequentes confrontos com ele, desafiando-o contra a flexibilização da Igreja em relação à comunidade LGBTQIA+, ao divórcio e ao papel das mulheres na instituição — que resumia como a agenda “woke” do Papa.
O cardeal considerava que a desorientação e o erro ingressaram “de forma diabólica” na Igreja e chegou a ameaçar emitir um ato de correção contra o Pontífice.
Com outros três cardeais aposentados, enviou um documento com cinco dúvidas, retratado como desafio público à autoridade papal.
Francisco não respondeu às questões, mas Burke foi removido do cargo de líder da Suprema Corte da Igreja, de seu apartamento no Vaticano e perdeu o salário de 5 mil euros. Não surpreende o fato de o clérigo ser o preferido de Donald Trump como sucessor de Francisco.
O presidente e Burke comungam de princípios em comum.
Em outubro passado, pouco antes das eleições presidenciais nos EUA, o cardeal conclamou os católicos americanos a enfatizarem a vida humana, o casamento, a família e a liberdade religiosa como aspectos essenciais a serem considerados no voto.
Eleito, Trump indicou o ativista católico de direita Brian Burch, um forte apoiador de Burke e crítico contumaz do Papa, para embaixador americano na Santa Sé. Ironicamente, a última autoridade a ser recebida por Francisco foi o vice-presidente americano, JD Vance, que se converteu católico há cinco anos.
Era visível o desconforto de Francisco na visita de 17 minutos no Domingo de Páscoa, em sua residência no Vaticano.
Antes de ser hospitalizado, o Papa criticou duramente a política de deportação de imigrantes do governo Trump e, particularmente, o vice-presidente por justificá-las como católico.
Vance ainda teve a chance de ouvir a última mensagem de Páscoa do Pontífice ao mundo, lida por um assessor, com a condenação fervorosa às políticas anti-imigração.
“Quanto desprezo é despertado às vezes em relação aos vulneráveis, aos marginalizados e aos migrantes!.”